Páginas

domingo, 10 de junho de 2012

10º  DOMINGO COMUM


10º Domingo do Tempo Comum - Ano B

Neste 10º Domingo do Tempo Comum, a Palavra de Deus leva-nos

a meditar sobre a nossa resposta de vida ao projeto de Deus para

nós, na liberdade de optar pelo bem e pelo mal.

O Evangelho centra o nosso olhar na pessoa de Jesus, que os seus

conterrâneos, entre eles tantos familiares, não aceitaram como

enviado de Deus e não perceberam, até se opuseram, à vontade de

Deus revelada em Jesus. Na caminhada da fé, cada um é livre de

optar: ou ficar pelos dispersos sentidos de vida, ou permanecer na

única família de Jesus, de «quem quiser fazer a vontade de Deus».

A segunda leitura realça que, para o cristão, viver só faz sentido na

certeza da ressurreição, na caminhada de vida interior que se

renova dia a dia em perspectiva da eternidade.

Neste horizonte neo-testamentário, meditemos em particular a

primeira leitura que nos mostra, recorrendo à história mítica de

Adão e Eva, o que acontece quando rejeitamos as propostas de

Deus e preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência…

Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte.



MENSAGEM

A nossa leitura começa com a “investigação” de Deus… Antes de

proferir a sua acusação, Deus – o acusador e juiz – investiga,

descobre e estabelece os fatos.

Primeira pergunta feita por Deus ao homem: “onde estás?” A

resposta do homem é já uma confissão da sua culpabilidade: “ouvi

o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo

e escondi-me” (vers. 9-10). A vergonha e o medo são sinal de uma

perturbação interior, de uma ruptura com a anterior situação de

inocência, de harmonia, de serenidade e de paz. Como é que o

homem chegou a esta situação? Evidentemente, desobedecendo a

Deus e percorrendo caminhos contrários àqueles que Deus lhe

havia proposto. A resposta do homem trai, portanto, o seu segredo

e a sua culpa.

Depois desta constatação, a segunda pergunta feita por Deus ao

homem é meramente retórica: “terias tu comido dessa árvore, da

qual te proibira de comer?” (vers. 11). A árvore em causa – a

“árvore do conhecimento do bem e do mal” – significa o orgulho, a

auto-suficiência, o prescindir de Deus e das suas propostas, o

querer decidir por si só o que é bem e o que é mal, o pôr-se a si

próprio em lugar de Deus, o reivindicar autonomia total em relação

ao criador. A situação do homem, perturbado e em ruptura, é já

uma resposta clara à pergunta de Deus… É evidente que o homem

“comeu da árvore proibida” – isto é, escolheu um caminho de

orgulho e de auto-suficiência em relação a Deus. Daí a vergonha e

o medo.

Ao defender-se, o homem acusa a mulher e, ao mesmo tempo,

acusa veladamente o próprio Deus pela situação em que está (“a

mulher que me deste por companheira deu-me do fruto da árvore e

eu comi” – vers. 12). Adão representa essa humanidade que,

mergulhada no egoísmo e na auto-suficiência, esqueceu os dons de

Deus e vê em Deus um adversário; por outro lado, a resposta de

Adão mostra, igualmente, uma humanidade que quebrou a sua

unidade e se instalou na cobardia, na falta de solidariedade, no

ódio. Escolher caminhos contrários aos de Deus não pode senão

conduzir a uma vida de ruptura com Deus e com os outros irmãos.

Vem, depois, a “defesa” da mulher: “a serpente enganou-me e eu

comi” (vers. 13). Entre os povos cananeus, a serpente estava ligada

aos rituais de fertilidade e de fecundidade. Os israelitas deixavamse

fascinar por esses cultos e, com freqüência, abandonavam

Jahwéh para seguir os rituais religiosos dos cananeus e assegurar,

assim, a fecundidade dos campos e dos rebanhos. Na época em

que o autor jahwista escreve, a serpente era, pois, o “fruto proibido”,

que seduzia os crentes e os levava a abandonar a Lei de Deus. A

“serpente” é, neste contexto, um símbolo literário de tudo aquilo que

afastava os israelitas de Jahwéh. A resposta da “mulher” confirma

tudo aquilo que até agora estava sugerido: é verdade, a

humanidade que Deus criou prescindiu de Deus, ignorou as suas

propostas e enveredou por outros caminhos. Achou, no seu

egoísmo e auto-suficiência, que podia encontrar a verdadeira vida à

margem de Deus, prescindindo das propostas de Deus.

Diante disto, não são precisas mais perguntas. Está claramente

definida a culpa de uma humanidade que pensou poder ser feliz em

caminhos de egoísmo e de auto-suficiência, totalmente à margem

dos caminhos que foram propostos por Deus.

Que tem Deus a acrescentar? Pouco mais, a não ser condenar

como falsos e enganosos esses cultos e essas tentações que

seduziam os israelitas e os colocavam fora da dinâmica da Aliança

e dos mandamentos (vers. 14-15). O nosso catequista jahwista

sabe que a serpente é um animal miserável, que passa toda a sua

existência mordendo o pó da terra. O autor vai servir-se deste dado

para pintar, plasticamente, a condenação radical de tudo aquilo que

leva os homens a afastar-se dos caminhos de Deus e a enveredar

por caminhos de egoísmo e de auto-suficiência.

O que é que significa a inimizade e a luta entre a “descendência” da

mulher e a “descendência” da serpente? Provavelmente, o autor

jahwista está, apenas, a dar uma explicação etiológica (uma

“etiologia” é uma tentativa de explicar o porquê de uma determinada

realidade que o autor conhece no seu tempo, a partir de um

pretenso acontecimento primordial, que seria o responsável pela

situação atual) para o fato de a serpente inspirar horror aos

humanos e de toda a gente lhe procurar “esmagar a cabeça”; mas a

interpretação judaica e cristã viu nestas palavras uma profecia

messiânica: Deus anuncia que um “filho da mulher” (o Messias)

acabará com as conseqüências do pecado e inserirá a humanidade

numa dinâmica de graça.

Atenção: o autor sagrado não está a falar de um pecado cometido

nos primórdios da humanidade pelo primeiro homem e pela primeira

mulher; mas está a falar do pecado cometido por todos os homens

e mulheres de todos os tempos… Ele está apenas a ensinar que a

raiz de todos os males está no facto de o homem prescindir de

Deus e construir o mundo a partir de critérios de egoísmo e de autosuficiência.

Não conhecemos bem este quadro?

ATUALIZAÇÃO

• Um dos mistérios que mais questiona os nossos contemporâneos é o mistério do mal… Esse mal que vemos, todos os dias, tornar sombria e deprimente essa “casa” que é o mundo, vem de Deus, ou vem do homem? A Palavra de Deus responde: o mal nunca vem de

Deus… Deus criou-nos para a vida e para a felicidade e deu-nos todas as condições para imprimirmos à nossa existência uma dinâmica de vida, de felicidade, de realização plena.

• O mal resulta das nossas escolhas erradas, do nosso orgulho, do nosso egoísmo e auto-suficiência. Quando o homem escolhe viver orgulhosamente só, ignorando as propostas de Deus e prescindindo do amor, constrói cidades de egoísmo, de injustiça, de prepotência, de sofrimento, de pecado… Quais os caminhos que eu escolho? As propostas de Deus fazem sentido e são, para mim, indicações seguras para a felicidade, ou prefiro ser eu próprio a fazer as minhas escolhas, à margem das propostas de Deus?

O nosso texto deixa também claro que prescindir de Deus e caminhar longe d’Ele, leva o homem ao confronto e à hostilidade com os outros homens e mulheres. Nasce, então, a injustiça, a exploração, a violência. Os outros homens e mulheres deixam de ser irmãos, para passarem a ser ameaças ao próprio bem-estar, à própria segurança, aos próprios interesses. Como é que eu me situo face aos meus irmãos? Como é que eu me relaciono com aqueles que são diferentes, que invadem o meu espaço e interesses, que me questionam e interpelam?

• O nosso texto ensina, ainda, que prescindir de Deus e dos seus caminhos significa construir uma história de inimizade com o resto da criação. A natureza deixa de ser, então, a casa comum que Deus ofereceu a todos os homens como espaço de vida e de felicidade, para se tornar algo que eu uso e exploro em meu proveito próprio, sem considerar a sua dignidade, beleza e grandeza. O que é que a criação de Deus significa para mim: algo que eu posso explorar de forma egoísta, ou algo que Deus ofereceu a todos os homens e mulheres e que eu devo respeitar e guardar com amor?



Fonte: © Sacerdotes do Coração de Jesus - Dehonianos
Fraternidade Nossa Senhora da Apresentação.
Irineu Maciel de Medeiros

Nenhum comentário:

Postar um comentário