Aqui vão, pois, algumas reflexões a serem levada em conta para enfrentar, a partir de agora, um novo caminhar do Movimento Champagnat da Família Marista.
Um novo contexto eclesial
"O Movimento Champagnat da Família Marista, prolongamento do nosso Instituto, é um movimento formado por pessoas que se sentem atraídas pela espiritualidade de Marcelino Champagnat." (Const. 164, 4) (projeto de vida, 4b)
Isto é, os estudos de vida que se sentem chamados a seguir o mesmo carisma, em nosso caso, o carisma marista de Champagnat, ficam influenciados uns pelos outros: os irmãos já não podem ser entendidos sem os leigos, e vice-versa. Começou uma reação em cadeia onde nada nem ninguém fica à margem, onde nada será mais igual.
O Espírito Santo está dizendo que não existe futuro para o carisma de Marcelino Champagnat se não "ampliarmos o espaço de nossa tenda", se não caminharmos juntos, irmãos e leigos, para "partilhar a vida: espiritualidades, missão, formação..."(Escolhamos a Vida n. 26).
Revendo o conceito de "vocação" do Leigo
" O Espírito Santo se faz presente hoje, na Igreja de uma maneira especial, impulsionando os leigos a se comprometerem mais seriamente com sua vocação de seguidores de Jesus e co-participante de sua missão." (Projeto de Vida, 1a).
A palavra "vocação" vem do verbo latim "vocare": chamar. Deus sempre chama, passa a eternidade chamando. A Bíblia está cheia de exemplos. Deus chama a todos. Ninguém é excluído. É uma vocação à vida, e a vida é o próprio Deus. Jesus Cristo, o filho de Deus, fiel ao Pai, fez da sua vida pública um chamado ao seguimento. Cuidado com a interpretação errada da frase de Marcos 3,13: "Chamou a si os que Ele quis!".
E essa experiência do chamado, que transforma toda uma vida, traz consigo, na liberdade e naturalidade, uma resposta: "Aqui estou para fazer a tua vontade!". Trata-se de uma aliança de amor, que a bíblia compara a um casamento. Mais laical não pode ser!
Porém, o que devo fazer? Onde? Como? Deus não joga com nossa história. Deixa-nos livres, porem escreve nela. Devemos aprender a lê-la, fazer releituras constantes da vida. Em nossa história de vida já estão escritos os próximos passos. Deus vai colocando, misteriosamente, em nosso caminhar as pessoas e os acontecimentos necessários para que encontremos a sua vontade e nossa felicidade. Porém, essas releituras não podemos fazê-las sozinhos. Deus quis que, humildemente, sintamos necessidade dos outros.
A isso, em espiritualidade, se chama de discernimento. Creio que como leigos e leigas marista devemos nos perguntar: Entramos por esse caminho. Como Fraternidades, buscamos construir assim o presente e o futuro do carisma marista que o Senhor nos presenteou? Comprometemo-nos em ajudar os outros a descobrir esse caminho e acompanhá-los nesse discernimento? É óbvio que os irmãos deveram fazer outro tanto.
Unindo, indissoluvelmente, carisma, espiritualidade e missão
“Em tudo o que fazemos, damos prioridade à formação cristã e à justiça, e nos preocupamos especialmente com os jovens, os pobres e os abandonados, (...) família desfeitas, jovens desorientados, crianças abandonadas e outros" (Projeto de Vida, 18c)
Marcelino e seus companheiros se sentiram inspirados a fazê-lo "do jeito de Maria", como mulher, esposa mãe, consagrada, pobre, educadora, do povo, comunitária, valente, audaciosa, libertadora, alegre, simples, humilde, peregrina, missionária, sofredora, ressuscitada...
Marcelino intui, além disso, um caminho próprio: a partir d educação das crianças e jovens, especialmente dos mais necessitados, abandonados, excluídos... Os que não têm ninguém por eles. Ele é tomado por um sentido de urgência para a missão: aos poucos meses depois de haver chegado à La Valla, inicia uma aventura com um grupo de jovens, quase adolescentes. E, pouco a pouco, vai convertendo em família uma fraternidade unidade para a missão, uma "nova maneira de ser filhos de Deus e da Igreja".
Hoje, nós, leigos e leigas, nos sentimos herdeiros dessa história e chamados a continuá-la e a transmiti-la, cada um a partir do seu estado de vida, com sua especificidade e complementaridade, com mais riqueza do que nunca, porque Deus continua agindo em nossa história de uma "maneira nova e corações novos para um mundo novo", aqui e agora. E isso é tarefa de todos nós do MChFM.
E isso não parece que seja uma coisa somente para os irmãos: muitos Leigos e Leigas têm dado o exemplo nesses últimos anos, com bem intuía o Ir. Charles Howad em 1991:
" As Fraternidades podem se comprometer e apoiar alguma atividade missionária em terras distantes. Também, um ou vários membros do Movimento podem ser chamados por Deus para servir com missionários leigos em alguma das jovens igrejas." (Projeto de Vida, 21).
Repensando as raízes e as bases do Movimento Champagnat
"O Movimento Champagnat é uma realidade viva. Preocupa-se não somente por conseguir novos membros senão, e sobretudo, para assegurar-lhes crescimento e maturidade marista..."(Projeto de Vida, 24a)
"A organização e as atividades da Fraternidade estão ao serviço da vida, espiritualidade e missão de seus membros" (Projeto de Vida, 25a)
O Movimento Champagnat da Família Marista nasceu em 6 de novembro de 1985, com o encerramento do XVIII Capitulo geral que , no capitulo 11 sobre a vitalidade do Instituto, n. 164.4, das recém elaboradas Constituição, confirmavam a sua criação. Juridicamente, as referidas constituições serão aprovadas pela Santa Sé somente em 7 de outubro de 1986.
Neste espaço de tempo, como víamos no inicio, muitas coisa evoluíram, tanto no mundo marista com na Igreja e na sociedade, quero acrescentar, no entanto, algumas outras:
O Movimento, em suas origens, foi concebido por irmãos , mesmo em que sua gêneses, como diz o Projeto de vida, se contemplam “o fato de que, em muitas partes do mundo, numerosas pessoas vinculadas aos irmãos solicitaram ajuda para aprofundar e concretizar seu compromisso cristão” (1b), e “desejam partilhar com maior plenitude a espiritualidade e missão que os irmãos receberam como herança de seu Fundador...” (1c).
Originariamente, as estruturas do Movimento foram muito dependentes dos irmãos. Porem isso não pode ser eternamente assim. Conheça a haver coordenadores provinciais leigos. E com dizia o Ir. Benito Arbués às Fraternidades de Ibérica em seu encontro falou: “Vocês já não são noviços. Conheço seu caminhar e me parece que é progressivo e seguro. O desejo de vocês me parece de quem se prepara para votos perpétuos”. Essas estruturas devem evoluir para uma maior autonomia laical, que não quer dizer ruptura com o Instituto.
Tudo isso, e muito mais, leva tempo alimentando e proporcionando novos elementos para nosso caminhar como Movimento Champagnat da Família Marista. Por isso creio que urge iniciar um processo de avaliação, discernimento e nova projeção do mesmo. Sei que algumas Fraternidades já estão fazendo isso. Porém não podemos nem devemos deixar ninguém à margem do referido processo.
E, para concluir, uma convicção que creio importante para iniciar esta nova etapa: Todas as transformações, para que cresçam, devem nascer da base e não serem propostas e, pior, impostas, a partir de uma coordenação centralizada em nível de todo o Instituto ou de todas as Fraternidades.
Natal, 11 de março de 2010.
Irineu Maciel de Medeiros
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